Osório César foi um dos primeiros psiquiatras brasileiros interessado em estudar a arte produzida por pacientes psiquiátricos, tendo iniciado esses estudos nos anos 1920 no Hospital do Juquery. Seu nome e seus trabalhos estão quase esquecidos. Este blog procura divulgá-los.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Expressão Artística dos Alienados - Preâmbulo

A Expressão Artística nos Alienados (contribuição para o estudo dos símbolos na Arte)

Osório César publicou esse livro em 1929, mas no que intitula como “Advertência”, após o Prefácio de Motta Filho, ele acentua que o trabalho contido nessa obra iniciou-se em 1923, logo de sua entrada no Hospital de Juquery, pois ele já tinha tal interesse.
Assim, vemos que mais de vinte anos antes de Nise da Silveira, Osório César já buscava fazer esse tipo de estudo. Não vai aqui a preocupação de “quem fez o quê primeiro”, mas sim de recuperar um trabalho esquecido, bem como de descobrir que dentro do Juquery existiam, na verdade, “vários Juquerys” e um deles era o abordado por Osório César.
Faremos uma exposição gradual desse livro de Osório César, com o uso da grafia atualizada em relação à de 1929. Mantivemos apenas a grafia de “Juquery” com “Y”, seguindo uma tendência iniciada na obra de M.C.P. Silva, em sua obra de 1986 sobre o Juquery, como um “laço”, um “gancho” no tempo, que possa parcialmente transpostar-nos ao tempo em que os trabalhos foram feitos.
Logo no início do livro observamos a dedicatória de Osório César:

“A Freitas Valle,
a quem devo tudo o que sou,
A Antonio Carlos Pacheco e Silva,
meu mestre e amigo, e
A Alarico Silveira, que me inspirou e
encorajou este modesto trabalho contribuindo
com uma grande parte da bibliografia
que nele se encontra”.

Talvez nessa dedicatória o que mais chame a atenção é a menção ao psiquiatra e Diretor do Hospital do Juquery Antonio Carlos Pacheco e Silva (1898-1988), por saber-se hoje que no transcorrer de sua história pessoal alinhou-se com posturas eugênicas e com governos ditatoriais, enquanto Osório César foi um entusiasta do marxismo. Essa menção pode levar a várias suposições, como, por exemplo, se as posições políticas dos dois teriam sido melhor definidas mais tarde, ou ainda se tratava-se mais de uma relação entre mestre e aluno, à margem de posturas políticas. Podem ser feitas essas ou outras hipóteses, por ora difíceis de confirmação. O que fazemos aqui é apenas o registro e a constatação de que os anos 1920 podem ter sido mais complexos do que se possa supor.
A dedicatória a Freitas Valle (Senador Freitas Valle – 1870-1958) pode se dever mais ao lado artístico de Osório César, já que se tratava de um grande mecenas das Artes em São Paulo, que concedia bolsas e apoio a vários artistas. Freitas Valle era advogado, poeta, político e de família abastada. Assim, em 1904 comprou uma chácara próxima à Avenida Paulista que chamou de Vila Kirial, tornando-a uma espécie de espaço cultural similar a correlatos europeus. Freitas Valle participou da fundação da Pinacoteca em 1906, em 1911 participou da organização da Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes. Também em 1911 integrou bancas do recém criado Pensionato Artístico do Estado de São Paulo com bolsas a artistas como Victor Brecheret e Anita Malfatti entre outros. Em 1912 foi um dos fundadores da Sociedade Artística. Em 1913 patrocinou a primeira exposição de Lasar Segall. Freitas Valle era deputado pelo PRP e amigo de Washington Luiz e Julio Prestes e desistiu da política após a saída de ambos do cenário político.
Alarico da Silveira era advogado, político. Foi autor de uma enciclopédia.




Um comentário:

  1. Olá,
    Sou Nathalia,16, e estou participando de um projeto com meu grupo que visa mostrar a história do Antigo complexo hospitalar e os trabalhos do Dr. Osório César. O intuito do projeto é tentar reativar o museu e o Juqueri para visitações.
    Gostaria de saber se poderia partilhar conosco informações sobre a sua pesquisa.
    (nath.s.araujo@outlook.com) esse é o meu e-mail, se puder entrar em contato, agradecemos.

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