A tradução não faz parte do texto original.
...continua Osório César...
A melancolia também empresta à arte alguns
momentos de atenção. Sob o nome de melancolia designou Pinel todo o delírio
parcial, qualquer que fosse a sua natureza, alegre ou triste, expansivo ou
depressivo. O termo tem hoje [em 1929] uma significação diversa. Segundo a
escola de Kraepelin, como vimos atrás, a melancolia não é mais aceita como
entidade mórbida independente, sendo encaixada na psicose maníaco-depressiva,
de que constitui a forma melancólica, assim como a mania representa a forma
maníaca. Naturalmente não queremos falar aqui dos doentes deprimidos,
acompanhados de relaxamento profundo de todas as faculdades intelectuais, onde
só se encontra absoluta esterilidade de imaginação artística.
A esses muito bem podem ser aqui encaixadas as
palavras do rei D. Duarte[1]
no “Leal Conselheiro”, sobre a “melancolia-temperamento”: os doentes “só cuidam
das coisas tristes, do aborrecimento de si, de outrem, com desesperança de todo
o bem e grande suspeita dos males não requeridos, semelhando por sua frialdade
e secura a terra seca de águas, que fruto bom e proveitoso não pode gerar”.
É justamente entre
os casos atenuados de melancolia, nos estados crepusculares, onde existe
vislumbre de ideação, que vamos encontrar, algumas vezes, manifestações de
arte.
Como exemplo, escutemos
estes harmoniosos versos intitulados “Pluie” [Chuva]:
Le ciel gris
s’ennuie:
Une fine
pluie
Pénètré mes os,
Et ma chair frissone.
La cloche qui sonne
L’enroue sous les eaux.
La pluie fine
verse
Son onde. Et
l’averse
Impassiblement
Mouille toute
chose,
L’insecte et
la rose.
Je vois vaguement…
Mon âme transie
Par l’humidité
Erre d’aventure,
Frémissante et pure
Dans l’air hébété.[2]
[Tradução livre:
“O céu cinza se entedia
Uma fina chuva
Penetra meus ossos
E minha carne treme.
O sino que soa
Se entedia sob as águas.
A chuva fina dirige
Sua onda. E o aguaceiro
Impassivelmente
Molha todas as coisas,
O inseto e a rosa
Eu vejo vagamente
Minha alma transida
Pela umidade
Vagueia em aventura
Tremente e pura
No ar atordoado”]
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