Neste livro Osório César usava linguagem psiquiátrica dos anos 20 do século XX.
As traduções não fazem parte do texto original. Os rodapés sim.
Para Leconte de
Lisle a poesia é: “...à ciseler des archaismes, à pendre précieusement des
effets de lumière et de pluie, des bouts de paysage oriental avec figures...”
[tradução livre: “trabalhada pelos arcaísmos, sustenta
preciosamente os efeitos da luz e da chuva, de relances de paisagem oriental
com figuras...”]
E para que tudo
isso se realize o que é preciso? Ser poeta e ter inspiração. “L’étincelle est l’inspiration,
sorte d voix intérieure qui semble dicte, au poéte ce qu’il doit écrire”[1]
[tradução livre: “a faísca é inspiração, tipo de voz
interior que parece dita ao poeta que a deve escrever”]
É o que os antigos
diziam:
“Est Deus in nobis, agitante callescismus
illo”.
[tradução livre: “Há um Deus em nós por cujo movimento
somos agitados”]
Ouçamo-lo agora em
Mulher Divina
Mulher divina, vos canto um hino,
eu sou um velho porém sou menino...
Ai! Bem sei apreciar a beleza
de quem é a rainha da gentileza.
Formosa, quando viestes ao mundo,
houve um contentamento profundo:
Os pássaros bem alegre trinavam,
os anjos, em coro, no Céu cantavam.
Cantavam um hino de alegria
por haver nascido a ideal Maria,[2]
brilhava a estrela matutina
quando chorou a divinal menina.
Encontra-se de
tudo nesta poesia: sentimento, espontaneidade e simplicidade. Vejamos
finalmente uma das suas últimas produções:
Entrei no Juquery
Eu entrei no triste Juquery
onde não canta a jurity,
entrei com lágrimas no olhar
porque eu vi que vinha penar.
E depois de um longo tempo,
que para mim foi um tormento,
aqui, feliz, tornei a nascer:
ao protetor vou agradecer.
Meus agradecimentos, Doutor,
me fizestes um grande favor:
eu estava na sepultura:
me destes vida, formosura...
Formosura, sim, quem tem saúde
pode tocar seu alaúde,
cantar ao violão, ao luar,
fazer uma morena chorar.
Destarte, a sua
poesia apresenta um estilo simples e de sabor primitivo, sem preocupação de
forma, semelhante àquelas dos poetas espontâneos, dos cancioneiros d’Ajuda, dos
trovadores medievais, dos nossos rimadores sertanejos e das cantigas populares.
É o que explicam
Antheaume et Dromard no seguinte trecho:[3]
“O espírito poético, agindo à maneira daquele das crianças e
dos primitivos, não evoca senão as percepções elementares no estado nascente, e
utilizada, se assim se pode dizer, em sua ganga bruta. Os símbolos, as metáforas,
as comparações, as alegorias, se casam à cadência dos versos e à música da
rima, assim como à harmonia geral e imitativa das palavras, para concorrer a um
conjunto de representações capazes de sugerir todos os atributos da ideia
dominante, ou melhor, da impressão final”.
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