O insano também não é um ser desafeiçoado e sem iniciativa pelas coisas de arte. Do mesmo modo que no indivíduo normal, a imagem, o pensamento formado no cérebro do alienado cria, em determinados casos, uma atitude estética bem curiosa.
Os poetas, os desenhistas, os escultores, etc., são artistas que frequentemente deparamos nos manicômios. E a nossa admiração se extasia quando encontramos com qualquer das produções desses artistas insanos e nelas vemos estilizadas, segundo a psique de cada um, concepções filosóficas, literárias ou plásticas, de uma ideação algumas vezes surpreendente.
Esses grandes artistas, na grande maioria, são todos homens.
Nas mulheres alienadas as produções artísticas (literatura, desenho, pintura, escultura e música), pelo menos nos nossos hospícios são escassas. Temos observado, no Hospital do Juquery, que entre as mulheres internadas, somente um pequeno grupo das mais calmas, essas produções de arte se resumem em objetos manuais, como sejam cestas de palha, crochet, bordados, etc., e raramente trabalhos decorativos, como flores de papel e cestas com flores fabricadas de massa de pão. (1)
Na observação de número (1) o autor escreve no rodapé:
Exceção feita de uma demente precoce do Hospital do Juquery, antiga internada, pintora paisagista, de que mais adiante falaremos.
Continuando o texto:
Não parecem ser frequentes nessas doentes, trabalhos literários, esculturas, pinturas murais, etc., por mais insignificantes que sejam.
“Se voltarmos as vistas para os tempos primitivos, [diz Havelock Ellis] (2), podemos estar perfeitamente seguros de que os desenhos toscos de homens, animais e de objetos naturais que se encontram nos instrumentos primitivos e nas rocas, são trabalhos de homens. Hoje em dia o impulso para desenhar, pintar e trabalhar – o impulso artístico em sua forma mais primitiva, - é muito mais acentuado nos meninos e homens do que nas meninas e mulheres. Nos colégios e nas prisões, esta diferença é decisiva. Por isto pode-se dizer que as mulheres são menos imaginativas do que os homens”.
No item de número (2) o autor escreve no rodapé:
Estudios de Psicologia sexual, vol. 1, trad. Hesp. Madrid, 1913.
Continuando o texto:
“A mulher alienada, [observa Toulouse], tem absoluta falta de invenção no conceito das ideias delirantes; não demonstra nada da riqueza de extravagância manifestada pelos homens. As características de grandeza que afetam tão amiúde os homens são raras nas mulheres, e então são visualmente de um caráter débil e vulgar, limitando-se em sua maior parte à região do tocado, ou a uma herança secreta suposta”.
Comentário sobre o texto:
Observa-se algo próprio desse período no que concerne à então suposta diferença entre homem e mulher em relação a pendores artísticos. Como esses estudiosos são citados por Osório César sem crítica aos mesmos, é provável que ele concordasse com essas visões.
É bastante interessante assinalarmos que entre 1 e 2 anos após a publicação desse livro, Osório César passou a viver com Tarsila do Amaral, com a qual viajou à União Soviética.
Podemos nos perguntar como ficaram esses conceitos a partir da estreita convivência com artista tão singular como Tarsila. Por outro lado, provavelmente conhecedora do livro de Osório, o que Tarsila teria pensado desses conceitos...
Caro Afonso
ResponderExcluirParabéns pela proposta do blog.
Tenho o livro de Osório César fotografado e bem legível.
Se isso puder ajudar na divulgação de seu pensamento, me escreva: thiago_wylde@hotmail.com
Um abraço
Thiago Gil
Ótimo Thiago!
ExcluirVamos divulgar o trabalho de Osório César.
Abraço
Afonso