O que podemos entender como uma "Introdução" a seu trabalho, Osório César chama de "Advertência", que é uma designação observada em algumas obras da época, quando se trata de texto breve.
Antes da Advertência, observa-se na mesma página duas observações literárias.
Em francês há uma citação de Antheaume-Dromard, da obra "Poésie et folie": "Il y a dans tout homme un fou qui sommeille". Ou seja, "Há em todo homem um louco que dorme".
Há também uma citação de Machado de Assis presente em "A Semana" de Machado de Assis: "Às vezes fito um quintal de Roma, de onde algum velho galo acorda o ilustre Virgílio, e pergunto se não será o mesmo galo que me acorda, e se eu não sou o mesmo Virgílio. É o período de loucura mansa que em mim sucede o sono".
Em seguida vem a sua "Advertência".
Advertência (Osório César - 1929)
Esta modesta monografia é o esforço de 6 anos consecutivos de trabalho estafante.
Desde nossa designação para o lugar de estudante interno do Hospital do Juquery, em 1923, já tinhamos em mente a ideia de estudar a arte nos alienados, comparando-a com a dos primitivos e a das crianças.
A ideia surgiu-nos logo depois do aparecimento do belo livro de H. Prinzhorn "Bildnerei der Geisteskranken" e do livro de Vinchon "L'Art et Folie".
No começo encontramos uma série enorme de dificuldades: literatura escassa entre nós, falta de Museu artístico no Hospital e principalmente carência de sólido conhecimento da matéria que íamos(sic) estudar.
Felizmente, algumas dessas dificuldades logo pudemos vencer, graças à bondade e à ajuda de dois grandes amigos, a quem devemos a realização desse trabalho: - Dr. Antonio Carlos Pacheco e Silva, jovem cientista, diretor do Hospital do Juquery, e Dr. Alarico Silveira, erudito profundo, que tudo sabe e ensina, aos quais deixamos consignados os nossos sinceros agradecimentos.
Depois de pacientemente organizado o Museu, com as peças e os trabalhos mais interessantes dos doentes do Juquery, fomos procurar nas revistas médicas nacionais e estrangeiras e nos catálogos de livrarias, obras referentes ao nosso assunto.
Mandamos então vir do estrangeiro, principalmente da Alemanha, grande número de publicações, cuja lista se encontra no fim deste livro.
As produções artísticas dos alienados, principalmente as plásticas e os desenhos decorativos que estudamos, apresentam-se interessantes e características para comparações com os trabalhos artísticos dos primitivos e das crianças.
Demos ao presente trabalho a seguinte orientação: quando tratamos de artistas do Juquery, transcrevemos toda a história psiquiátrica do doente e em seguida analisamos a sua obra.
Em alguns casos que achamos interessantes (principalmente os casos de demência precoce com desenhos simbólicos) aplicamos a psicanálise de Freud, tal como o fez na Alemanha Morgenthaler, no seu curioso livro "Ein Geisteskranker als Kunstler", e como já o fizemos nós, em trabalhos anteriores, publicados em colaboração.(1)
Uma boa parte do material artístico que reproduzimos dos índios do Brasil e dos negros, devemos ao prof. Roquette Pinto, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que nos facilitou e orientou que lhes são inatas, durante o tempo de nossa estada no Rio, as ricas coleções do Museu. A ele, pois, e ao seu assistente, Dr. Raimundo Lopes, que nos auxiliaram na separação das peças, os nossos agradecimentos.
São Paulo, Abril de 1929
(1) O. Cesar e J. Penido Monteiro - Contribuição ao estudo do simbolismo místico nos alienados, São Paulo, 1927.
Durval Marcondes e O. Cesar - Sobre dois casos de estereotipia gráfica com simbolismo sexual. Memórias do Hospital de Juquery, N. 3-4, São Paulo.
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