O Prefácio de Motta Filho ao livro de Osório César sobre a Expressão Artística dos Alienados pode revelar alguns elementos interessantes.
Um primeiro aspecto corresponde ao prefácio feito por um artista, ou ainda literato, a um livro da área médica.
Isso denota uma correlação própria de Osório César com o mundo artístico ao mesmo tempo em que tem sua atividade médica e mais especificamente psiquiátrica, relação essa que perdurou por toda sua vida.
Um outro fator diz respeito à data desse prefácio: um texto de 1927 que se refere a observações e estudos feitos por Osório César alguns anos antes dessa data.
Esses são dados inovadores a respeito de estudos dessa natureza nesses anos. Os anos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial e principalmente os anos antes de 1930 são ainda carentes de estudos que possam iluminar o que acontecia por esse tempo. Ainda são poucos os trabalhos que procuram aprofundar noções desse período. A partir de 1930 iniciou-se uma construção "getulista" da história que deixou para o período anterior apenas a marca de "República Velha", ficando o rótulo de "Nova República" para o período getulista e mais ainda o de "Estado Novo" a partir do regime instalado em 1937.
O texto de Motta Filho traz todo um clima em torno e parte do ambiente do Hospital de Juquery, como também o ambiente entre os intelectuais de São Paulo desse período.
É certo que em 1920 Franco da Rocha já tinha publicado o primeiro livro no Brasil sobre a doutrina de Freud, embora já anos antes disso Freud vinha sendo episodicamente citado por alguns estudiosos.
O texto de Motta Filho, que tinha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, dá indícios de que ideias sobre psicologia corriam entre discussões e informativos populares e já outras seriam mais objeto de debate entre estudiosos.
Além disso, ao falar em "cientificismo" Motta Filho já dá também a entender que as polêmicas em torno das ideias freudianas e os conceitos científicos já estavam presentes e ativas na São Paulo de então.
Essa São Paulo de 1927 é uma cidade de quase um milhão de habitantes, que em 1900 tinha em torno de 300 mil habitantes e que 30 anos antes tinha menos de 100 mil. Esses números dão ideia do crescimento meteórico de São Paulo nesse período, que era comparada a um permanente canteiro de obras (e será que não continua assim?).
Já se vê aí pelo texto de Motta Filho, bem como por esses números e todo o clima em torno disso, que a Sampa de Caetano Velloso talvez já estivesse ali não apenas "incubada" mas já... talvez... até mesmo... (e mais do que uma figura de linguagem) "tropicalista'!
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