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texto...
Conceito das
parafrenias. Poetas parafrênicos. A poesia mística. História psiquiátrica de um
doente com delírio místico. Poemas parabólicos com interpretação do autor.
As parafrenias constituem hoje em dia um grupo clínico bem definido
que Kraepelin separou da demência precoce. Assim o fez em virtude de certos
doentes não apresentarem modificações da personalidade, perda da afetividade e
da iniciativa.
Kraepelin admitiu quatro variedades de parafrenias: a sistemática, a expansiva, a confabulatória
e a fantástica.
A parafrenia
sistemática é caracterizada, diz Kraepelin, pelo “desenvolvimento
extremamente vagaroso de um delírio de perseguição, continuamente progressivo,
com ideias de grandeza mais tarde a ele associadas, sem destruição de
personalidade”.
As alucinações do ouvido e da vista são tremendas,
apavorantes. O indivíduo vê pessoas de sua família supliciadas, mortas; vê
esqueletos. Ouve vozes de pessoas conhecidas que lhe pedem socorro; escuta
injúrias e ameaças que não o deixam tranquilo noite e dia. Desse modo se
implanta o delírio de perseguição que atenaza o doente atrozmente durante anos.
“O parafrênico sistemático”, diz o prof. Roxo, “vive numa
eterna desconfiança e na rua não há frase que lhe não seja alusiva, ou olhar
que o não vise”.
“Anos depois, em geral, ou muito pouco tempo depois, em
muitos, vem o delírio das grandezas”.
“Muitas vezes é ele chave de tudo quanto ocorreu antes. Era a
inveja que o fazia odiado, por ser um milionário, por ser filho do rei, por ser
o apaixonado de uma princesa”.
E assim vive o pobre alienado dentro do círculo de sua
moléstia, cuja evolução é longa e penosa.
A parafrenia expansiva
se caracteriza pelo delírio de grandezas, pela euforia com ligeira excitação,
fazendo lembrar por vezes a excitação maníaca.
As ideias eróticas são frequentes, chegando mesmo, em certos
casos, a dominar o quadro. Não são comuns os delírios de perseguição; quando
eles aparecem, conservam-se sempre em plano secundário e não preocupam o
doente.
A parafrenia
confabulatória é constituída pelo abaixamento adquirido do nível
intelectual e por um delírio em que se notam essencialmente muitas ilusões da
memória e alucinações (Roxo).
É forma rara. Kraepelin, em 35 anos, apenas viu 12 casos.
A parafrenia fantástica
se caracteriza pela existência de um delírio florescente, cheio de alucinações
extravagantes absurdas, desconexas e mutáveis. É a forma clínica em que o
doente diz frequentemente que os cachorros conversaram com ele, que os
passarinhos lhe dirigiram a palavra, ou que o demônio se lhe apresentou, a
discutir com ele (Roxo).
O delírio de perseguição é comum. O doente é desconfiado de
tudo e de todos. As perturbações cenestésicas são intensas. Sente cheiro de
clorofórmio, de éter. As alucinações auditivas são frequentes: vozes
ameaçadoras são percebidas.
Telefones misteriosos, irradiações de toda natureza o
perseguem constantemente.
Essa forma de parafrenia muito se assemelha com a forma
paranoide da demência precoce.
A forma expansiva
da parafrenia é a que apresenta mais rico manancial de símbolos para o estudo
interpretativo psicanalítico.
Esta psicose, segundo Kraepelin, aparece entre os 30 e os 50
anos. O que a caracteriza, como vimos atrás, é um delírio de grandeza
exuberante, com animo alevantado e facilmente irritável. Geralmente, as ideias de grandeza, segundo Kraepelin,
na metade dos casos, e, segundo Bumke, com maior frequência, têm uma tinta
erótica; em outras ocasiões adquirem elas uma tonalidade religiosa acompanhada
de ideias de perseguição.
“Frequentemente”, diz Bumke, “tais ideias religiosas se
confundem com as eróticas e dão lugar à fabulação que produzem uma impressão de
onirismo ou de fantasia extraordinária”.
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