...continuação do texto...
A obra artística é uma criação da fantasia, como bem disse
Lazar (1). Esta questão de moldes, de medidas de “cannons”é o enclausuramento,
é a morte, por assim dizer, do artista criador.
A arte para ser genial tem que ser livre.
“A beleza estética que (2) imediatamente se desprende da
natureza, suscita na alma do artista, propensa ao êxtase, verdadeiras torrentes
de sensações. Estas, por sua vez, emprestam seus elementos para a integração
fantástica, produzindo, por assim dizer, a imagem virtual. Mas, do mesmo modo
que a imagem refletida no espelho das águas correntes varia, quebra-se ou
desaparece segundo a intensidade e a direção do movimento, assim também vai
mudando esta imagem no espírito do artista, e, em definitiva, é distinta da
imagem refletida pela água imóvel, que vem a ser a imagem da recordação. Apesar
da sua mobilidade, encontra-se, entretanto, em íntima conexão com a natureza da
qual procede. Na imagem concreta, deste modo lograda, se contêm todos os
elementos formais, porém o processo que conduz aos meios de expressão está
determinado de antemão”.
A beleza não é uma manifestação de escola, criada para uma
admiração universal. Ela é só questão de temperamento.
A estética futurista apresenta vários pontos de contato com a
dos manicômios. Não desejamos com isto censurar essa nova manifestação de arte;
longe disso. Achamo-la até muito interessante assim como a estética dos
alienados. Ambas são manifestações de arte e por isto são sentidas por
temperamentos diversos e reproduzidas com sinceridade.
Picasso (3), o grande artista da palheta, nos seus quadros
cubistas, representa uma individualidade original, longe dos preconceitos
acadêmicos e que tanto tem influenciado a geração de seu tempo. Falando dele,
Gordon (1*) assim se exprime: “Em considérant l’art de Picasso du point de vue
psychologique, nous pouvons dire que son art represente une grande sensibilité
et une fertilité plutôt qu’une recherche réfléchie, determinée et bien dirigée
d’une conception esthétique individuelle. Personellement je pense qu’en
présentant um tableau l’on ne doit pas s’intéresser à ce qu’il represente, mais
aux sensations qu’on éprouve en l’étudiant et em l’analysant. Une peinture a
plus de caracteres comuns avec um morceau qu’avec une photographie em couleurs.
L’Art ne doit à notre avis reconnaitre aucune autorité, mais seulement la
verité”.
Apreciemos também a figura 52, que é a reprodução de um
interessante mármore de Alexandre Archipenko, esse russo revolucionário, cuja
arte, nestes últimos anos, tem impressionado o grande mundo intelectual. A
descrição que desse trabalho faz Hildebrandt (2*) é a seguinte:
“Todo el movimento de la mujer está en el centro del bloque
que oferece uma aparência de calma. No por eso los câmbios de dirección están
menos marcados; pero, a fin de no aminorar la impressión de concentración, los membros
están acusados solamente por um relieve poco pronunciado. Vease, por ejemplo,
como está trabajada la cabeza de la figura 52: el cuello no aparece sino como uma
transición del torso a la cabeza inclinada adelante; los cabelos no hacen más
que enquadrar el rosto circumscripto por uma sola linea marcadíssima. En este
mismo rosto no hay más que dos acentos y de direcciones contrarias: la nariz
recta en relieve poco acusado y el ojo sin pupila en forma de almendra. Em lo
demás también se ha limitado a señalar solamente lo essencial y, sobre todo, las
articulaciones que ha hecho ressaltar sobremaneira”.
Poderemos dizer aqui, como disse Voivenel (3*), que: “ao lado
do salão dos independentes, o salão dos asilos de alienados não faria a má
figura que pensam”.
Notas de O. Cesar:
1 – Béla Lázár – Los pintores impressionistas. Tradução
espanhola da 2ª edição.
2 – Béla Lázár – obra citada, página 10.
3 – Picasso foi o mestre do cubismo; ele iniciou o movimento
dessa escola, desejando, segundo Lafora, obter a expressão histórica dos
volumes, sobre a inspiração das esculturas africanas.
1* - Alfred Gordon – La Psychologie de L’Art Moderne. Annales
Médico Psychologiques, pag. 223. Masson. Paris, 1926.
2* - Hans Hildebrandt – Alejandre Archipenko. – Editora Internacional.
Buenos Aires.
3* - La
Raison chez le fous. Pag. 45.
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