...continuação do
texto...
Confrontando-se, por exemplo, a escultura reproduzida na
figura 31, arte de um africano (1), com a escultura da figura 50, arte de um
demente paranoide, ver-se-á um idêntico princípio, uma estreita afinidade
estética plasmada nessas duas artes.
O sentido da forma que o artista africano altera para nossos
olhos, entalhando na madeira ou esculpindo na pedra suas estátuas com músculos
deformados, é para a visão dele uma atitude estética natural. A sua arte não
tem regras, não tem dogmas que a escravize. É sentimento que respira acima de
tudo. É estranho realismo subjetivado. Por isso o artista somente compreende a
beleza nesse modo representativo de deformidades. E, com a mesma mentalidade do
artista africano, também julga a beleza o paranoide artista, quando modela em
barro a sua estátua de fisionomia extravagante e de membros desproporcionados.
Para esses artistas independentes, a arte representa a sublimação de um
pensamento, de um ideal, materializado simbolicamente num pedaço de madeira ou
num bloco de argila.
Os desenhos de animais têm todos uma feição grotesca e são
estilizados com riscos paralelos e linhas quebradas, que lhes dão um cunho
especial (fig. 33, 34). Esses desenhos mostram algumas analogias com os dos
índios atuais do Brasil.
“Os desenhos dos índios da serra do Norte”, diz Roquette
Pinto (Rondônia, pag, 258), “embora elementar, já apresentam alguns motivos
interessantes, tirados da imitação das formas animais”.
“A circunferência, o triângulo, o quadrado aparecem
desenhados em negro na superfície de algumas cuias”.
“Cobras e sáurios acham-se, às vezes, representados nos seus
traços essenciais”.
Nota do texto:
1 – A escultura
africana, pela sua naturalidade impressionista, tem sido modernamente motivo de
real admiração por parte de muitos autores:
“...la sculpture
africane”, diz Einstein (La Sculpture Africane. Trad. Franç. Pag.7, Paris,
1922), “presente des solutions cubiques d’une purété et d’une logique qu’on
trouve rarement ailleurs. Elle cherche à résoudre les problèmes de
concentration et de liason dans l’espace, et c’est de la sculpture égyptienne
qu’elle as rapproche le plus dans à domaine”.
Como a arte egipciana,
a arte africana, diz ainda o mesmo autor (obra cit. pag. 13), tem suas raízes
no culto dos mortos, - o culto dos antepassados. A religião é o elemento
preponderante de toda a produção artística dos negros.
A arte dos primitivos
apresenta nos nossos tempos uma significação intelectual muito elevada. Ela tem
sido a fonte de todo esse novo movimento escultórico da arte moderna. E tanto é
assim que alguns críticos de arte não consideram mais a arte africana como
sendo uma arte primitiva. Einstein, no seu livro citado, à pag. 8, se exprime
deste modo a esse respeito:
“...l’art africaine
nous révèle des nuances tout aussi finement marquees, et il faut pas se laisser
induire en erreur par cette stéreotypée: l’art primitif des peuples sauvages”.
Comentários sobre o
texto:
1 - observa-se nessa menção bibliográfica de Osório Cesar já uma tendência, em 1922 (data da referência), de deixar-se de considerar a arte de povos nativos, de regiões tidas como selvagens, como uma arte “primitiva”.
2 - o autor "Einstein" mencionado na bibliografia é Carl Einstein (1885-1940), crítico de arte e estudioso de história da arte alemão que conviveu com importantes artistas e estudiosos da arte do início do século XX. Foi grande estudioso da arte africana. Aderiu a tendências políticas de esquerda europeias de seu tempo.
1 - observa-se nessa menção bibliográfica de Osório Cesar já uma tendência, em 1922 (data da referência), de deixar-se de considerar a arte de povos nativos, de regiões tidas como selvagens, como uma arte “primitiva”.
2 - o autor "Einstein" mencionado na bibliografia é Carl Einstein (1885-1940), crítico de arte e estudioso de história da arte alemão que conviveu com importantes artistas e estudiosos da arte do início do século XX. Foi grande estudioso da arte africana. Aderiu a tendências políticas de esquerda europeias de seu tempo.